Onde termina o “para sempre”?
Há quem viva um dia de cada vez, assim como há quem viva querendo se eternizar, querendo fazer com que a vida dure mais e mais tempo. Para sempre talvez?
Vivemos numa estrada sem fim, buscando numa religião, numa suposta espiritualidade, em algo físico ou sobrenatural, o caminho para a eternidade num lugar que não sabemos onde, não encontramos ou achamos que sabemos.
Não. Nem todos compreenderam ou talvez minha compreensão seja essa hoje. Talvez ela mude, talvez eu esteja errado, como também posso estar certo. Isso não importa de verdade.
O que, de fato, acontece é que nós somos eternos de várias formas e em todas há uma condição de dependência. Exatamente!
Nós precisamos de alguém ou algo para que essa eternidade aconteça e ela não depende apenas da nossa vontade.
Existe um campo chamado subconsciente onde muita coisa acontece e pouco percebemos.
Nesse campo, em minha opinião, ocorrem 97% de tudo que nutre, tange, influencia, molda nossas vidas como um todo. Ali, o subconsciente se mistura ao nosso inconsciente e vai conversar com o sistema 1 do cérebro, ali onde fica o sistema límbico. Esse sistema 1 é quem vai cuidar de nossas emoções básicas, como o medo, por exemplo.
No subconsciente estão os conjuntos estímulos que vão resultar naquilo que chamamos de sentimentos, os mais ocultos e profundos inclusive.
Sendo que esses conjuntos de estímulos guardam grupos de memórias e experiências altamente complexos desde que o primeiro ser da sua linhagem existencial foi concebido (entenda como vida) ainda na barriga da mãe dele.
Me chame de louco se quiser, mas sofremos influencia de mais de 350 mil anos e temos vontades, anseios e medos que nem sequer paramos para saber de onde vem. Tudo isso por causa de um cérebro que não evolui estruturalmente há milhares de anos e por causa desse tal de subconsciente.
Já tempos o nosso “para sempre”. O “para sempre” está dentro e fora de nós. É nosso tempo sem tempo, é realmente atemporal. Pois, no campo do sentir não há passado, presente ou sequer futuro. Não há. A vida, seu organismo e, principalmente seu cérebro, não distingue aquilo que você sento como sendo temporal, é imediato e veio de algum lugar. Ou melhor, lugares.
O “para sempre” que molda cada um de nós, levando-nos a sermos quem somos, sem percebermos O QUE somos e nem PORQUE somos.
As pessoas que influenciamos, os filhos que somos e os filhos de quem os teve. O sentimento de olhar para alguém, comover e se sensibilizar pelos atos alheios.
Tem até o fato de amar alguém sem nunca ter visto a pessoa antes.
Você poderia me perguntar: Ok, mas isso pode ser instintivo!
Sim, mas o que fez você seguir aquele caminho e cruzar com exatamente aquela pessoa naquele exato momento?
Mais complexo de se responder, não?
Olhando assim, choca pensar que buscamos uma eternidade, ou grande parte de nós a busca. Ficamos tanto tempo olhando para o fim da estrada, querendo estendê-la. Esquecemo-nos de olhar que ela já não tem fim há muito tempo. O mundo já mudou, já transcendeu. Apenas não percebemos, não a grande maioria. Porque o “para sempre” é entender onde ele está e não quando ele chega.
É uma palavra que muda alguém, é um gesto que altera o resultado, é uma vida inteira vivida que vai ser contada e que influencia outras tantas vidas sem se dar conta. Você já se eterniza apenas por viver.
Tentamos chegar querendo que seja sem fim, que seja eterno. Contraditórios que somos, buscando um “para sempre”, uma eternidade, mas que seja apenas dos melhores momentos, esquecendo que os melhores e piores momentos são nada mais que uma consequência uns dos outros.
Muitos de nós querer tanto sair de suas casas, conhecer o mundo, sem conseguir sequer conhecer o próprio bairro, sem saber o nome do vizinho.
Você, eu, nós já estamos nela, nessa tal eternidade. Desde que nascemos e morreremos nela, porque deixaremos, fatalmente, nossa semente no coração de alguém, nos lábios de alguém, no abraço apertado, no olhar trocado, nas nossas palavras e ações. Seja no sorriso ou nas lágrimas provocadas, até mesmo na indiferença provocada, seremos eternos até onde termina o “para sempre”.