Entre dores e drogas

No dia 15/07/2015 uma notícia foi veiculada por alguns sites e meios de comunicação sobe a ex-jogadora de futebol Taynara Molinari. Ela foi presa por porte de drogas. A notícia na íntegra está aqui (portal G1). Já coloco a ressalva que a matéria citada usa o termo “judiação”, que vem do verbo judiar e atribui-se, mais comumente, à origem baseada no extermínio de judeus (holocausto). Por essa razão, mudei o título desse meu post e peço desculpas caso tenha ofendido alguém pela minha ignorância em relação ao termo. Corrijo aqui para uma expressão que seja mais apropriada com relação ao assunto.

Ela (Taynara), pela descrição na matéria, era uma garota tranquila e disciplinada que surpreendeu as pessoas de seu convívio quando era jogadora de futebol, pela notícia de estar envolvida com drogas.

Eu já conheci pessoas assim ou, pelo menos quem eu conheci era uma menina super simpática, alegre, me ligava pra dizer que o céu estava bonito, que o luar e as estrelas estavam brilhando, gostava de malhar, gostava da vida, mas não conseguia lidar com seus próprios medos e anseios (suas dores).
Usava cocaína e quando “parou” passou a usar “só maconha” de acordo com a família.

Ela escondia isso das pessoas e usava mais quando estava deprê ou ficava assim depois de usar. Chegou no ponto em que não sabia mais se a tristeza a fazia buscar refúgio nas drogas ou se as drogas a faziam sentir tristeza.
De acordo com ela, quando se podia entrar no papo sem ela se ligar que não se tratava de curtição, mas quando se começava a falar de drogas ela ia embora se estivesse desencanada e, pelo papo, ela conhecia tudo que era tipo de droga que se possa imaginar e chegava a falar sobre os efeitos.

Pelas conversas dava pra notar que ela conhecia todo tipo de droga que se possa imaginar e seus efeitos. Claro, ela não era uma Taynara, uma atleta, nem nada disso. Ela foi se envolvendo nesse meio gradualmente até se perder sem se dar conta. Era um desafio falar das consequências com ela, pois logo ela ficava na defensiva e insinuava coisas como “eu não sou viciada”.

Certa vez brinquei com ela e falei algo puxando o assunto sobre “rebite” – droga usada por alguns caminhoneiros para aguentarem turnos de longas horas dirigindo procure matérias sobre tais assuntos, chegou até a ter programa na Globo sobre isso – e ela até mesmo relatou alguns efeitos ou coisa relacionada ao tempo de duração da droga.

Passei um tempo estudando seu caso e procurando entender, primeiro como amigo depois com uma visão mais psicológica e terapêutica. Ela se recusava até mesmo a admitir que precisava se tratar, e tampouco demonstrava ser uma dependente química. Não sei se é o caso da Taynara, mas era o caso da minha amiga.

Já ouvi pessoas espiritualistas dizerem que pessoas assim tem um grande potencial de cura e de promoverem mudanças na sociedade, mas que sofrem grande influência espiritual. Se nascem numa família que não dê um suporte razoável caem no vício. Eu não acredito muito nisso, pois me julgo prova disso, nunca precisei usar nada e nunca tive vontade, assim como sempre tive amigos que acabaram se perdendo e me chamaram para seguir o mesmo caminho, eu não quis.

Ah, mas você não curte! Não é maluco!
Amigo(a), maluco na minha opinião não é viajar e ficar doidão. Você encara uma viajem para uma tribo na Amazônia e um ritual de iniciação com formigas tocandiras? Encara um salto de 30.000 pés de altitude? Encara uma descida a 80km/h numa ladeira de skate? Sem tomar nada?

Nota: com o passar do tempo descobri que para pessoas que fazem essas coisas mais arriscadas o campo do cérebro requer situações assim para dar a carga de adrenalina necessária e bem maior do que para outros tipos de pessoas. Funciona como uma droga também, mas sem requisitar uma substância para tal. Ainda assim prefiro esse jeito do que o da minha amiga.

Falando nela. Ela queria fugir de si mesma e a única saída que via era se drogar. Era uma pessoa de boas intenções, às vezes (tenho dúvidas, pois também pareceu uma pessoa vingativa e alguns momentos), mas na maior parte do tempo era apenas a menina/mulher legal que todo mundo achava bonita e (desculpe o termo, mas era assim que os homens em volta se referiam à ela) gostosa. Talvez isso sim fosse ruim para ela. Não sabia lidar com isso.
Nota 2: Quero dizer com isso que a viam como objeto e ela, ou não percebia ou ajudou a criar essa imagem dela. A consequência é que ela sofria com isso.

Independente de quem você seja, seu desafio, sua vida, é melhor você primeiro se aceitar e deixar o ego pra lá. O ego pode te levar ao topo da cadeia da sociedade, mas também vai ser quem vai te derrubar.
Minha amiga escondia muito seus sentimentos, suas emoções eram sempre contidas, ela não chorava pra valer, não conseguia abraçar pra valer, estava sempre na defensiva, mas foi escolha dela. Rodeada por gente que queria só ter sua aparência, sua casca por perto.

Como amigo e muito próximo, pouco pude fazer. Afinal, não conseguia ter um papo que ela considerasse. Tentei várias vezes ajudar, cheguei a viajar coisa de 300km ou mais para leva-la a lugares em que pudesse encontrar uma galera legal que curte a vida de boa, sem precisar apontar o dedo pra cara de ninguém, gente totalmente do bem. Mas ela não quis, sempre dava uma desculpa, sempre fugia. Numa das vezes, discutimos e a briga foi muito, muito feia.

Nesse dia ela chorou, mas não foi pela situação dela e sim por causa da nossa briga. Eu fiquei muito mal e acho que ali a amizade acabou.
O estrago já estava feito, por mais que eu quisesse ajudar, a família aturava ela e ela mesma já tinha desistido de lutar. Eu não desisti dela, apenas entendi que ficar por perto não iria ajudar em nada. Até que cheguei para ela e falei: “Daqui em diante você quem vai decidir quem fica do seu lado e quem vai embora, suas atitudes e escolhas vão determinar isso”.

Gente, uma coisa é ter alguém (parente, amigo, etc) e largar a pessoa lá sabendo que poderia ter feito algo. Outra coisa é fazer de tudo e a pessoa não te querer lá para ajudar. Aí só resta compreender e seguir em frente. Não foi fácil como apertar um botão, nem simples, pois tinha muitas outras coisas envolvidas e não vou entrar em detalhes, mas eu já não confiava nem nela, nem na família dela.

Conversei com várias pessoas que passaram por situações assim, viciados e ex-viciados, e é uma unanimidade entre os que pude falar que, se o paciente não decide se curar, é como na vida de maneira geral, você está no controle absoluto das coisas, basta permitir-se viver e ser feliz. Se não quiser fazer isso, você vai afundando e machucando muitas pessoas pelo caminho.

É triste o que aconteceu com a Taynara, assim como o que aconteceu com a minha amiga. Eu gostaria de dizer que ela está bem, mas não acredito nisso. Não acredito que ela tenha mudado e melhorado, pois a cada passo foi causando feridas maiores e que requerem muito mais “centro”, tempo, transformação profunda para curar.

Se você está nessa situação, tentando ajudar ou precisando de ajuda, saiba que o primeiro passo deve ser seu. A única coisa que posso dizer é que o tempo que estive por perto eu dei todo o amor que eu poderia ter dado, e ela sabe disso, eu não emprestei, eu não pedi de volta, eu não cobrei, eu não quis algo em troca, eu dei todo o amor que eu tinha para essa pessoa. Fui embora porque não tinha mais o que fazer ali. Ela, infelizmente, dizia que amor e ódio andam juntos, ela sabia que me amava, mas também me odiava, só não sabia que não era isso que eu sentia, nem isso que eu queria. Ser sincero e verdadeiro depende de sermos assim primeiro conosco depois com o outro.

Se ela estiver lendo isso agora, eu desejo apenas que, se ela realmente puder e quiser despertar o amor que ela já tem dentro dela, basta apenas despertar uma pequena fagulha de tudo a vida lhe deu de bom. Acredite, aceite e agradeça a oportunidade e tua felicidade brotará, pois o ouro já vive nela e ela sabe disso, é só querer.

Ninguém precisa ser refém de “dores e drogas”. Quando você pode ser também a luz do seu próprio caminho, dona do seu próprio destino.