Paz, harmonia e justiça: um desejo, um objetivo ou uma utopia?
A transformação do mundo como conhecemos hoje, num mundo de paz, harmonia e justiça, passa pelo fato de converter esse desejo num objetivo e para que esse objetivo se concretize é necessário saber se é possível ou apenas um sonho improvável, uma utopia.
Ouço muitas pessoas, principalmente os mais jovens e pessoas com conceitos mais voltados à religião e espiritualidade dizerem que muitos dos males que assolam o mundo são para nosso benefício, para aprendermos a ser mais amorosos, mais compreensivos.
Eu já pensei assim e acreditei nisso, um dia. Mas, por que não mais?
Se olharmos bem o cenário mundial, independente de crença e idade, o que acontece quando alguém comete um erro é, no mínimo, uma avalanche de comentários e ataques sem propósito e até sem justificativa. Afinal, o que eu tenho com a vida de alguém que decide se separar de um casamento, ou que muda para um estilo de vida que sempre sonhou?
Quando temos a paz, harmonia e justiça como desejo comum é imprescindível avaliar o que isso significa para cada um de nós até, finalmente, chegarmos num senso comum.
Uma brincadeira para alguns é bullying para outros. Um comentário elogioso para alguns é machista para outros e assim por diante.
Veja, dia desses, acompanhando uma cena de um programa, a moça disse “Você não vai me beijar? Você é um frouxo!”. Nitidamente a moça estava forçando uma situação. Porém, se fosse o contrário, algo muito grave teria acontecido.
Com isso, quero ilustrar que os conceitos de certo e errado, bom ou ruim, passam por filtros ainda muito aquém do que uma sociedade que diz querer paz, harmonia e justiça precisa para colocar tais conceitos em prática.
O que é paz para alguém pode não ser para você, nem para um país inteiro. Alguns, por exemplo, acreditam que para haver paz deve-se eliminar por completo o “inimigo”.
Por outro lado, para se alcançar essa paz, quebra-se a harmonia e comete-se injustiças.
Ou será que no lado do “inimigo” não há inocentes e pessoas também apenas querendo paz e harmonia?
Na sua casa há paz? Sempre?
Há harmonia na sua casa?
Ninguém nunca discorda de nada?
Ah, mas discordar não significa que não haja paz ou harmonia!
Exatamente!
O fato de as pessoas discordarem não significa que não haja paz, harmonia e justiça. São coisas diferentes, contudo há quem discorde dessa opinião e considere o simples fato de alguém discordar de uma opinião como já sendo motivo para a quebra da paz, da harmonia e até motivo de injustiça.
Isso tudo permeia algo que poucas pessoas percebem ou falam. A intenção!
Quando as intenções não são claras, não há paz, nem harmonia, muito menos justiça. Pois, quando escondemos nossas intenções – é o que geralmente acontece nas relações humanas – a troca não é justa e o desequilíbrio é certo.
Nós somos uma raça com mais de 350 mil anos e ainda não fomos capazes de ter paz, harmonia e justiça de forma igual para todos. Por que será?
Simples, porém, passível de discordâncias. O mundo não foi feito a partir de paz, harmonia e justiça. A vida é um caos, mesmo que de forma equilibrada, ainda assim um caos. Grandes ideias de projetos nascem de uma reunião que é comumente chamada de “brainstorm” ou, em livre tradução, tempestade de ideias.
Enfim, não vou ficar aqui filosofando sobre a vida, mas devo considerar que o que é paz para você, não é para sua vizinha, sua mãe ou nem mesmo para quem você mais ama. Harmonia para muitas pessoas é apresentar algo belo, mesmo que tenha custado um caminhão de brigas e estresse.
Justiça é algo ainda mais complexo. Pois, será que é justo haver tanta fome no mundo?
Mas, e aquela pessoa que nunca quis saber de trabalhar e sempre se aproveitou das pessoas? Será que é justo que essa pessoa possa comer e outra que sempre foi honesta e sincera, passe fome?
Na minha sincera opinião, eu já acreditei que seria possível um mundo de paz, harmonia e justiça. Hoje, não acredito mais!
Por todos os motivos que coloquei acima e por outros tantos, a humanidade é injusta e não quer mesmo que haja paz. Só não queremos guerras, mas paz e harmonia estão longe do ideal, até mesmo porque cada um de nós temos uma expectativa diferente sobre o que é ideal.
Creio que se nos responsabilizarmos cada vez mais por aquilo que fazemos, por nossas vidas, sem vitimizar e sem querer acusar o outro – lembre que justiça não é vingança e onde há conflito não há paz, nem harmonia – podemos não converter uma utopia em possibilidade, mas podemos, sim, viver com nossas diferenças sem causar tanto dano quanto já causamos.
O caminho é longo para a responsabilidade, mas não é impossível!
Já a paz, harmonia e justiça, são desejos de muitos, objetivos de alguns e apenas uma utopia para tantos outros.