Por que os animais demonstram mais gratidão que os humanos?

Neste primeiro artigo do “Papo de Leigo”, vamos tentar entender porque os animais demonstram mais gratidão que os humanos. Vou trazer alguns elementos para você refletir sobre algo que diariamente causa comparação entre os humanos e outras espécies, dando sempre vantagem ou mérito para essas outras espécies.

Você já deve ter escutado ou dito frases como “prefiro muito mais os animais do que os seres humanos!”.

Talvez tenha se perguntado: como pode um animal demonstrar mais gratidão que um humano, pelo simples fato de ser cuidado e alimentado?

A coisa fica mais interessante ainda quando você pega casos extremos onde um animal é resgatado em situação crítica, correndo risco de morte e essa situação se reverte. Com o passar de semanas e meses, é nítida a melhora do animal, você vê os pelos mais sedosos e brilhantes, a alegria, o ganho de peso. 

Como consequência disso, o animal demonstra sua gratidão, carinho e, por que não?, apego ou apreço ao seu/sua tutor(a) ou salvador(a).

Quem nunca viu isso em cães, gatos ou até outras espécies como onças, corujas, cabras, bois e vacas, etc.

Seres humanos não demonstram gratidão como os animais

Será?

Bem, se você pegar um caso semelhante ao exemplo anterior e colocar um ser humano como a vítima. Verá que, mesmo sendo resgatado, tratado, cuidado e amado, ainda assim poderá se voltar contra quem o salvou e, num caso extremo, tirar a vida dessa pessoa.

Photo by Lisa from Pexels
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Um exemplo fácil de identificar que destoa dessa demonstração de gratidão que têm os animais, é quando alguém doa um órgão à outra pessoa. Como uma namorada que doa um rim ao seu amado e ela a trai com a melhor amiga dela.

Por que isso acontece?

A minha teoria parte do preceito que os animais vivem num tipo de organização bem mais simplificada que a nossa. Eles não precisam aprender a ser sociáveis, articulados e se encaixar em padrões e comportamentos como nós.

Logo, quando um animal demonstra mais gratidão que o humano, isso se dá por ser algo totalmente instintivo. Àquela pessoa que resgatou o cãozinho ou gatinho, garantiu que aquele ser indefeso e frágil vivesse e, para ele ou ela, isso é tudo que importa. Eles têm verdadeiramente uma vida curta e não pensam se vão ganhar ou perder algo naquela relação, eles ganharam a chance de viver.

Já o ser humano, não. Nós temos uma coisinha chamada córtex frontal e nesse lugar, em nosso cérebro, ocorrem as tomadas de decisão complexas e racionais. Ou seja, a pessoa pode acordar de manhã e chegar a conclusão que há algo mais importante do que demonstrar gratidão por quem a ajudou ou salvou.

Somos uma espécie que ao longo das gerações foi aprendendo que podemos ser uma ameaça a nós mesmos a qualquer instante em qualquer condição. Isso faz com que não nos reconheçamos apenas como semelhantes, mas como inimigos. Nosso instinto nos avisa disso e nosso lado racional diz: “Veja, você tem muitos anos para viver e não precisa mais dessa pessoa!”.

Tanto o ser humano que salva como o que é salvo podem dar desfechos contrários à gratidão

O ser humano pode salvar com a intenção de aprisionar o outro. Seja psicologicamente falando, seja fisicamente, nós temos a condição de planejar um enredo complexo que faça a pessoa acreditar naquilo e nos envolvemos nesse processo.

Portanto, vejo que seria até injusto querer comparar a gratidão que um animal demonstra com a de um ser humano. Afinal, se uma criança de oito anos de idade derruba a TV de 8K que custou a metade do preço de um carro, ela vai levar uma bronca ou ser chamada a atenção. Talvez até, fique de castigo — em alguns casos, para sempre —, tenha que refletir sobre o que fez.

Já um gato que faz a mesma coisa, estará ganhando ração e carinho poucos minutos depois.

Muitas pessoas dizem que o animal compreende nossas dores e tristezas melhor que nosso semelhante. Isso é a empatia instintiva que todos temos. A diferença é que o animal, principalmente o que é cuidado, tratado, recebe o que deseja constantemente.

O ser humano é mais complexo de lidar, de entender, de conviver e em seus desejos também. Como eu disse, é injusto comparar o comportamento de ambos, pois não vivemos no mesmo tipo de sociedade que os animais. Nossa gratidão pode acabar sem razão aparente, pode não ser demonstrada como queremos e, principalmente, nossa gratidão não deveria ser obrigatória, mas espontânea.

Muitas vezes, ao invés de dizer “você é ingrata(o)!” para alguém que saiu cedo, trabalhou o dia todo, foi empurrada(o), esculachada(o), maltratada(o) o dia todo, a pergunta correta fosse “Como você está se sentindo? Quer conversar? Quer um abraço?”.

Talvez, ao chegar em casa depois de um dia difícil, e pegarmos o cachorro ou o gato em nosso colo e abraçá-lo, muitas vezes deixando que as lágrimas escorram por nosso rosto e deixando que o bichinho lamba ou faça o que pode para nos agradar. Que tal pedir um abraço pro seu semelhante?

Temos o lado racional para nos ajudar a tomar decisões complexas, mas ainda temos dificuldade de usá-lo para demonstrar algo simples e instintivo, a gratidão.